Às vezes eu acho que eu nunca vou sair daqui. Às vezes eu acho que o meu destino é ficar sentada nessa cadeira que constantemente me traz dor nas costas e nunca sair. Às vezes eu acho que nasci destinada a isso. Que independente do quanto eu tente e me esforce, eu vou continuar aqui. Vivendo de falsos sorrisos, de voz propositalmente afinada e de uma submissão envergonhadora. Às vezes eu acho que na verdade eu nunca saio daqui. Que aqui eu acordo e durmo, que não saio, não vivo, não como, que tudo é fruto da minha imaginação, numa falha tentativa de retardar um provável enlouquecimento.
A sensação de tudo acontecer independente do meu querer acontece com frequência. Aquela de que todo mundo consegue mais, vive mais, arrisca mais. Enquanto isso, sentada aqui, gosto de fingir que sou alguém importante, primordial, quando na verdade, além de me remexer incontáveis vezes nessa cadeira, também finjo fazer algo. Finjo responder algum e-mail, finjo resolver alguma atividade, finjo fazer qualquer coisa. Eu leio, ouço música, bebo café e vou incontáveis vezes ao banheiro, sempre imaginando. Imaginando ser algo, alguém que não sou. Alguém naturalmente bom, naturalmente gostado, naturalmente tudo o que eu tento ser.
Tento ler e escrever, ouço podcasts, jornais e notícias, para tentar ser inteligente. Tento sorrir, para tentar ser simpática, tento manter a postura, apesar da cadeira em que estou sentada. Tento me destacar. Passo dias, semanas, pensando em atingir prazos criados por mim mesma. Durmo pouco e quando consigo, sonho com as tarefas— novamente impostas por mim—. Me estresso, penso em quinhentas mil maneiras de estrangular todas as pessoas que de acordo com a minha régua, não são boas o suficiente. Régua que eu mesma, não atinjo. Choro de raiva, de sono, desconto em doces. Repito tudo novamente para que por alguma graça do destino eu consiga ser vista.
Tento, tento, tento, e mesmo assim, as vezes eu acho que nunca vou sair daqui. Que o meu destino é o mesmo de tantos outros que vieram antes de mim, que sonhavam, tentavam, mas nunca conseguiram. Que ao invés de atingirem aquelas coisas que sonham e pediam para a tal força superior responsável por ajudar criancinhas obedientes, o meu destino é ficar aqui, sentada nessa cadeira, sorrindo e obedecendo.
A diva sempre sendo certeira no que escreve!! Texto incrível 🫶🏻